quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Legba carrega uma panela que se transforma em sua cabeça


Ifá andava triste e desolado,
tendo se desentendido com seu rei.
Ele consultou o oráculo para saber o que fazer.
Foi dito que fizesse uma oferenda
com tudo quanto era fruto redondo.
Mas o ebó deveria ser entregue por sua mãe.
Como a mãe de Ifá morava longe,
Ifá pagou a Legba um galo e uns doces para ele ir buscá-la.
Exu chegou à casa da mãe de Ifá
e disse que a levaria à casa de seu filho
desde que ela lhe pagasse alguma coisa.
Mas ela não tinha nada para oferecer a ele.
Exu disse que queria o bode de doze chifres
que tinha visto no quintal da casa dela.
Ela disse que o bode não era dela,
ela apenas o guardava.
Legba insistiu.
Legba tomou o bode e o matou.
O sangue do bode jorrou e era puro fogo
e o fogo tomou conta de Exu.
Ele consultou o babalaô
e foi dito que fizesse uma oferenda
com os órgãos internos do bode.
Ele o fez e em seguida se pôs a cozinhar a cabeça.
Mas a cabeça do bode não cozinhava,
por mais que a panela ficasse no fogo.
Ele tomou a mãe de Ifá e a panela
e resolveu voltar à cidade de Ifá, levando a mulher.
Usando um pano torcido,
Legba fez uma rodilha para carregar a panela nos ombros
e a panela grudou nele e se transformou em sua cabeça.
Naquele tempo Exu ainda não tinha cabeça.
Eles chegaram à casa de Ifá e a mãe narrou ao filho o ocorrido.
Ifá lamentou-se por também não ter cabeça.
Foi dito que se fizessem sacrifícios com frutas redondas
para ganhar um ori.
A mãe levou ao rei a cabaça contendo as frutas redondas.
O rei tomou um mamão e o partiu em dois.
Uma metade do mamão fixou-se entre os ombros
e transformou-se na cabeça do rei.
Assim foram nascendo as cabeças.
Exu foi o primeiro a ter o ori fixado nos ombros.
Precisa fazer sacrifício
quem quiser ter uma cabeça.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 49 - 51. Originalmente encontrado em Bernard Maupoil, 1943, pp. 53-5; Juana Elbein dos Santos, 1976, pp. 214-5. Para os iorubás, a cabeça, o ori, é uma dádiva que recebe sacrifício, tradição mantida nos candomblés através do bori, cerimônia de dar comida à cabeça.

Ebó [ebò]: sacrifício, oferenda, despacho.
Ori [orí]: cabeça; destino.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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