sábado, 27 de agosto de 2011

Monaliza Viviane é uma Yaônilé!


Ser Yaônilé é mostrar sempre o melhor da cultura Afro. Para mim, o grupo é como uma segunda família. Ser Yaônilé é dançar e suar muito para conseguir que o grupo tenha um bom desenvolvimento. Uma das melhores coisas na minha trajetória é fazer parte dessa família. Sou Yaônilé!

Monaliza Viviane

Conheça mais sobre Mona Viviane em seus perfis nas redes sociais: Orkut, Twitter.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Iansã é traída pelo Carneiro


Um dia Oxum e outro alguém queriam fazer mal a Iansã.
Colocaram o feitiço no bracelete de Oxum
e o puseram dentro de uma caixa
para que fosse entregue a Iansã.
Agbô, então, foi chamado para levá-lo a Iansã.
Agbô era o dono dos carneiros, dono dos agbôs.
Tudo o que corria no palácio era espalhado
por meio da língua de Agbô, o Carneiro.
mas Iansã, com sua arguta intuição,
pressentiu o que lhe vinha por meio de Agbô.
Ela, então, foi ao encontro do Carneiro
e na forma de um vento abriu a caixa
e trocou o bracelete por um pequeno pássaro.
Agbô foi um instrumento contra Iansã,
mas Iansã sentiu-se traída por ele.
Desde então Iansã odeia carneiros
e não aceita nem sequer comê-los.


[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, pág 300. Originalmente encontrado em René Ribeiro, 1978, pp. 47-9; Rita Segato, 1995, p. 405.

Agbô [agbò] – carneiro macho.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

Xangô ordena que primeiro saúdem seu irmão mais velho


Dadá Baiani Ajacá era o irmão mais velho de Xangô.
De caráter pacífico, deixava para seu irmão Xangô
o poder de enfrentar as lutas e maledicências que o incomodavam.
Xangô defendia o irmão com gana furiosa.
Xangô dava grandes festas no palácio de Oió
e a elas todo o povo acorria.
Quando todos se prostavam no chão para saudar Xangô,
ele os impedia e os mandava saudarem primeiro seu irmão mais velho.
Até hoje, quando se louva Xangô, é por hábito saudar Dadá Baiani.
Assim Xangô sempre estará satisfeito.
E Dadá também é senhor de muitas riquezas
e propicia tudo isso a seus devotos.

[Notas Bibliográficas e Comentários]


Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, pág 249. Originalmente encontrado em Pierre Verger, 1985, p. 30.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

Euá transforma-se na névoa



Euá era filha de Nanã.
Também filhos de Nanã eram Obaluaê, Oxumarê e Ossaim.
Esses irmãos regiam o chão da Terra.
A terra, o solo, o subsolo, era tudo propriedade
de Nanã e sua família.
Nanã queria o melhor para seus filhos,
queria que Euá casasse com alguém que a amparasse.
Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Euá.
Euá era linda e carinhosa.
Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum
para garantir a empreitada.
Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Euá.
E eram tantos os pretendentes
que logo uma contenda entre eles se armou.
A concorrência pela mão da princesa transformou-se
em pugna incessante e mortal.
Jovens se digladiavam até a morte.
Vinham de muito longe,
lutavam como valentes para conquistar sua beleza.
Mas a cada vencedor, Euá não se decidia.
Euá não aceitava o pretendente.
Vinham novos candidatos e outros combates.
Euá não conseguia decidir-se,
ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se
e acabar de vez com o sangrento campeonato.
Tudo estava feio e triste no reino de Nanã;
a terra seca, o sol quase se apagara.
Só a morte dos noivos imperava.
Euá foi então à casa de Orunmilá
para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora
e pôr um fim àquela mortandade.
Euá fez os ebós encomendados por Ifá.
Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra
e, para o espanto de todos,
a princesa começou a desintegrar-se.
Foi desaparecendo, perdendo a forma,
até evaporar-se completamente e transformar-se
em densa e branca bruma.
E a névoa radiante de Euá espalhou-se por toda a Terra.
E na névoa da manhã Euá cantarolava feliz e radiante.
Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma.
O Supremo Deus determinou então que Euá
zelasse pelos indecisos amantes,
olhasse seus problemas, guiasse suas relações.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 233-4. Originalmente encontrado em Rita de Cássia Amaral, pesquisa de campo, São Paulo, 1986. Em muitos candomblés, Euá é a patrona da virgindade e da pureza. Dizem mesmo que somente uma virgem pode ser iniciada em seu culto.

Ebó [ebò] – sacrifício, oferenda, despacho.

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Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

Erinlé é acusado de roubar cabras e ovelhas



Em Ijebu viveu um grande caçador chamado Erinlé.
Ele era generoso e imbatível na caça.
Por isso era admirado pela maioria da população.
Mas havia alguns moradores que invejavam Erinlé
e que conspiravam para arruinar o caçador,
famoso pela caça de elefantes e de outros animais.
Decidiram roubar cabras e ovelhas do rei e culpar Erinlé.
O rei intimou quem soubesse algo sobre o roubo a dizê-lo.
Os conspiradores foram até o rei fazer a acusação.
Disseram que Erinlé roubava cabras e ovelhas,
escondia as peles em casa e dizia
que as carnes eram de animais selvagens.
O rei intimou Erinlé.
Houve um julgamento.
Os inimigos de Erinlé testemunharam contra ele.
O rei quis ouvir a defesa de Erinlé.
Houve testemunhos a favor dele.
Diante do impasse, o rei ponderou que Erinlé
parecia ser de fato um grande caçador,
mas teria que provar sua inocência.
Erinlé disse:
“Minha caça falará por mim.
Minha caça será minha testemunha”.
Erinlé foi até sua casa e trouxe coisas para o rei.
Erinlé trouxe as peles dos animais selvagens que havia caçado.
presas de elefantes e de javalis,
peles de gamos, veados e antílopes.
Então o réu reconheceu a inocência de Erinlé
e ordenou que ninguém mais tocasse no assunto.
Erinlé foi para casa, inocentado porém triste.
Erinlé nunca se conformou com a acusação que sofrera.
Erinlé pensava e não entendia a razão de tentarem desgraçá-lo.
Não quis mais caçar nem comer com os seus.
Em momentos de desespero fustigava o próprio corpo
com a sua chibata de cavaleiro, seu bilala.
Imaginava que seria acusado novamente
caso acontecesse outro roubo de animais.
Erinlé perdera completamente a vontade de caçar.
Então entrou na água de um rio próximo
e partiu de Ijebu, onde nunca mais foi visto.
E se tornou o orixá do rio.
Erinlé agora é o rio.
O rio Erinlé é Erinlé,
o orixá caçador que já não caça.

[Notas Bibliográficas e Comentários]


Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 131-2. Originalmente encontrado em Harold Courlandes, 1973, pp. 163-5.



Bilala [bílàlá] – chibata usada por Otim e Oxóssi.

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Iá Mi são enganadas por Orunmilá


Um dia Orunmilá quis ir a Otá para descobrir os segredos das Iá Mi.
Ele procurou os babalaôs e consultou Ifá.
Orunmilá podia ir, disseram, mas tinha que fazer uma oferenda.
Assim, Orunmilá preparou uma peça de tecido branco para oferecer
e mais uma cabeça de serpente e um pombo branco,
ao que juntou quatro obis brancos e quatro obis vermelhos
e também azeite, pó branco de efum, pó vermelho de ossum
e uma cabaça.
Orunmilá deu tudo isso aos babalaôs e alegrou-se:
agora podia ir à cidade das Iá Mi.

Quando Orunmilá chegou ao mercado de Otá,
as feiticeiras se regozijaram: “A comida chegou”, disseram.
Porque elas queriam matar e comer Orunmilá.
Mas Exu, que faz o bem e o mal e transforma-se rapidamente,
veio em pessoa advertir as bruxas Iá Mi:
Orunmilá tinha um pássara mais poderoso do que os delas todas.
Dessa forma, as Iá Mi tiveram de levar seus pássaros
e submetê-los a Orunmilá.
Mas elas não queriam deixar de lutar.
As Iá Mi lançavam mau-olhado no corpo de Orunmilá.
Elas queriam matá-lo
porque Orunmilá conhecer todos os segredos delas.
Então Orunmilá consultou novamente Ifá e fez novas oferendas.
Preparou uma buchada, pegou um frango de penas arrepiadas
e também ecôs e búzios.
Os babalaôs de Orunmilá foram consultar Ifá.
Então eles chamaram as Iá Mi
e deram aquilo tudo para elas comerem.
E elas não puderam mais ver  Orunmilá nem pegá-lo.
Orunmilá as enganara.
Como eram ajés, isto é, feiticeiras,
as Iá Mi não podiam comer buchada,
pois tripa é seu euó, seu tabu,
e como frango arrepiado não pode voar para o telhado da casa,
as Iá Mi não podiam matá-lo.
Foi assim que Orunmilá enganou as Iá Mi Oxorongá naquele dia
e descobriu quase todos os segredos delas.


[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs. 351-352. Originalmente encontrado em Pierre Verger, 1992, pp. 41-3.


Ajé [Àjé] – feiticeira.
Euó [ewò] – interdição religiosa; tabu; quizila.
Ecô [eko] – bolinho de amido de milho branco ou amarelo embrulhado em folha de bananeira.
Efum [efun] – giz, pó branco.
Ossum [osun] – pó vermelho usado para pintar o corpo em certas cerimônias; giz.
Obi [obì] – noz-de-cola, fruto africano aclimatado no Brasil (Cola acuminata, Streculiacea), indispensável nos ritos do Candomblé; substituído em Cuba pelo coco.


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sábado, 20 de agosto de 2011

Jardim das Folhas Sagradas - O candomblé no cinema

Um filme sobre a espiritualidade, ecologia e conflitos do cotidiano urbano. Jardim das Folhas Sagradas oferece o debate sobre bissexualidade, intolerância religiosa e preconceitos étnicos, ao mesmo tempo em que expõe nuances do Candomblé e discute a degradação das áreas verdes nas cidades vitimadas pela especulação imobiliária.

É o resultado de um amplo projeto de pesquisa a respeito da religião afro-brasileira. Parte de um conceito analítico, até crítico sobre o Candomblé, e revela detalhes de uma crença pouco conhecida além dos círculos da sua existência. É nítida a espiritualidade dos personagens enquanto vivem dramas cotidianos. Aborda assuntos expostos desde em O Amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres (ambos de Nelson Pereira dos Santos) ao filme Barravento, de Glauber Rocha.


Jardim das Folhas Sagradas traz no elenco excelentes atores baianos, desde o conhecido João Miguel (Estômago (2007) e Melhor Ator no Festival do Rio 2005 por Cinema, Aspirinas e Urubus (2005)), aos estreantes no cinema nacional, mas de longa carreira no teatro baiano, a exemplo de Antônio Godi - que encarna o protagonista da trama -, Evelin Buccheger, Sérgio Guedes e atores do Bando de Teatro Olodum. A surpresa fica por conta da participação especial da cantora Mariene de Castro, debutando enquanto atriz.

Além de ter um ator negro enquanto protagonista, Jardim surpreende por abordar um negro como um profissional bem sucedido. O ator Antônio Godi vive o bancário Bonfim, casado com Ângela (Evelin Buchegger) - uma mulher branca e de crença evangélica. Bonfim conserva uma relação homossexual com Castro (João Miguel), mas depois de um acontecimento trágico, bombardeado por sonhos místicos e com a vida de cabeça pra baixo, resolve cumprir uma missão recebida no Candomblé: fundar o terreiro Kosí Euê Kosí Orixá, que em Iorubá significa “sem folha não há orixá”.

O local é afastado da cidade e preserva o contato entre natureza e religião. Porém essa segmentação ecológica enfrenta resistência de setores do próprio Candomblé, já que a maioria das sessões é realizada com o sacrifício de animais, aspecto determinante para que o terreiro permaneça protegido pelos orixás, e cuja desobediência pode trazer consequências funestas. Uma tradição que o moderno terreiro de Bonfim também pretende enfrentar.


Por meio de diversos conflitos, Bonfim experimentará o sabor do amor e do desprezo, da amizade e da traição, compartilhando o aprendizado da força e sabedoria ancestrais do Candomblé para a superação dos obstáculos, numa Salvador marcada pela expansão e especulação imobiliárias.


Jardim das Folhas Sagradas é o primeiro longa-metragem da carreira de Pola Ribeiro, baiano de 55 anos que sempre atuou nas artes visuais. Nele, a discussão social abordada, segundo o diretor de cinema Bernard Attal, “é comum ao negro de Salvador e de Paris”. O filme teve premiére nacional durante o Festival do Rio 2010 e estreia comercial prevista para maio de 2011 em Salvador e Luanda (Angola) simultaneamente.

Para baixar este release clique aqui. Baixe também o PDF com informações do filme em português, inglês e francês. Acompanhe a produção do filme nas redes sociais: Facebook, Twitter, Orkut, Youtube e Blog.

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Nelson Mandela - Um pensamento


“… a cela é um lugar ideal para aprendermos a nos conhecer, para se vasculhar realística e regularmente os processos da mente e dos sentimentos. Ao avaliarmos nosso progresso como indivíduos, tendemos a nos concentrar em fatores externos, como posição social, influência e popularidade, riqueza e nível de instrução. Certamente são dados importantes para se medir o sucesso nas questões materiais, e é perfeitamente compreensível que tantas pessoas se esforcem tanto para obter todos eles. Mas os fatores internos são ainda mais decisivos no julgamento do nosso desenvolvimento como seres humanos. Honestidade, sinceridade, simplicidade, humildade, generosidade pura, ausência de vaidade, disposição para ajudar os outros — qualidades facilmente alcançáveis por todo indivíduo — são os fundamentos da vida espiritual. O desenvolvimento de questões dessa natureza é inconcebível sem uma séria introspecção, sem o conhecimento de nós mesmos, de nossas fraquezas e nossos erros. Pelo menos – ainda que seja a única vantagem – a cela de uma prisão nos dá a oportunidade de examinarmos diariamente toda a nossa conduta, de superarmos o mal e desenvolvermos o que há de bom em nós. A meditação diária, de uns 15 minutos antes de nos levantarmos, é muito produtiva nesse aspecto. A princípio, pode ser difícil identificar os aspectos negativos em sua vida, mas a décima tentativa pode trazer valiosas recompensas. Não se esqueça de que os santos são pecadores que continuam tentando.”

De uma carta de Nelson Mandela escrita na prisão para sua então esposa, Winnie, datada de 1º de fevereiro de 1975.


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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O extermínio negro direto e indireto como parte do projeto de poder no Brasil

 
Por Douglas Belchior*
 
Muito se diz sobre a prioridade em diminuir a miséria e as diferenças sociais no Brasil. No entanto, há pouca reflexão sobre o quanto a miséria e a marginalização da maior parte da população são fundamentais para o projeto de poder das elites racistas do país.
 
A superação da pobreza depende, fundamentalmente, do rompimento com os interesses do grande Capital, no Brasil representado por latifundiários e empresários do agronegócio; por banqueiros, especuladores financeiros e empresas multinacionais de diversas áreas. Somente uma mudança estrutural nas relações políticas, sociais, raciais e econômicas será capaz de eliminar as desigualdades em nosso país.
 
Há sim uma histórica e permanente divisão de classes composta por um lado pelos personagens já citados acima, por outro pela massa empobrecida, trabalhadores e desempregados em todos os níveis. Mas, chamamos a atenção em particular para situação da população negra no Brasil. O racismo tem ditado a dinâmica das relações sociais desde a falível abolição da escravidão, há 123 anos.
A população pobre que se declara parda ou preta é quase o triplo da que se declara branca, de acordo com dados do Censo 2010.
 
Em maio de 2011 o governo federal definiu para o limite da miséria - renda de até R$ 70 por mês - e divulgou que 16,2 de pessoas se encaixam nele. Uma semana depois, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a cor ou raça declarada deste grupo de pessoas. De acordo com os dados, 4,2 milhões dos brasileiros pobres se declararam brancos e 11,5 milhões pardos ou pretos - isso significa que o número de pobres negros é 2,7 vezes o número de pobres brancos.
 
Não bastassem as mazelas sociais que afligem historicamente a população negra por meio do subemprego, do desemprego, da falta de moradia, dos serviços precários de saúde e educação, da falta de oportunidades e do desumano e permanente preconceito e discriminação racial em todo e qualquer ambiente social, percebe-se a vigência de um projeto de extermínio da população negra, por parte do Estado brasileiro.
O Estado e suas policias mantém uma atuação coercitiva, preconceituosa e violenta dirigida a população negra. Desrespeito, agressões, espancamentos, torturas e assassinatos são práticas comuns destas instituições.
 
Em julho de 2009 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e o Observatório de Favelas divulgam resultados de sua pesquisa, e os dados são estarrecedores: 33,5 mil jovens serão executados no Brasil no curto período de 2006 a 2012. Os estudos apontam que os jovens negros têm risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos brancos.
 
Conforme o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, em 2002, em cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados. Esse número saltou para 33,6 em 2008; enquanto entre os brancos, o número de mortos por homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. Em 2002, morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos. Esse percentual cresce de forma preocupante uma vez que salta de 67% para 103%.
 
De acordo com o mesmo Mapa, constata-se que o grau de vitimização da população negra é alarmante: 103,4% maiores as chances de morrer uma pessoa negra, se comparada a uma branca; sendo 127,6% a probabilidade de morte de um jovem negro [de 15 a 25 anos] à de um branco da mesma faixa etária.
Cada vez mais explícitos, os casos de violência policial furam o bloqueio da grande mídia, causando comoção e provocando a atenção da opinião pública a cerca desta realidade. O último grave acontecimento foi a do desaparecimento do menino negro Juan Moraes, morto aos 11 anos pela polícia do Rio de Janeiro. O genocídio negro já é admitido por parte imprensa nacional, a exemplo do jornal Correio Braziliense, que após cruzar dados de mortalidade por força policial do Ministério da Saúde e das ocorrências registradas nas secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e São Paulo, revelou que a uma pessoa é morta no Brasil pela polícia a cada cinco horas e que 141 assassinatos são realizados por agentes do Estado a cada mês.
 
Ainda segundo o estudo, Rio de Janeiro e São Paulo concentram 80% dos assassinatos cometidos por policiais no Brasil. Em 2009, 1.693 pessoas foram mortas por policiais. Em 2010, esse número aumentou: foram 1.791. Os números mostram que 70% dos mortos são jovens de 15 a 29 anos.
 
Soma-se a esse quadro, a ação genocida indiretamente promovida através do encarceramento em massa de jovens e adultos em internatos, fundações, institutos de recuperação, cadeias, penitenciárias e presídios. Espaços onde a tortura e o completo desrespeito aos direitos humanos são rotina. A subserviência e a aliança entre grupos políticos e empresários junto ao tráfico internacional de drogas e o consequente mercado ao mesmo tempo fascina pelo “ganho” fácil, coopta e vitimiza a juventude, em especial a população negra.
 
O complemento à política genocida deste estado vê-se a olhos nus nas áreas da Educação e Saúde. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) divulgada no final de 2010 demonstra que o Brasil ainda possui 14 milhões de analfabetos. Apenas 23% dos brasileiros maiores de 25 anos concluíram o ensino médio.
 
Outro estudo, (Laeser/IE-UFRJ), aponta que a taxa de analfabetismo entre os negros é maior do que o dobro se comparada a da população branca. Dos 6,8 milhões de analfabetos que frequentaram a escola entre 2009 e 2001, 71,6% eram pretos e pardos.
 
Na Saúde, esse mesmo estudo (Laeser/IE-UFRJ) revela que existe um abismo entre brancos e negros no acesso à saúde pública e que essa desigualdade perpassa o Sistema Único de Saúde (SUS), onde, por exemplo, em relação ao Pré-Natal, 71% das mães de filhos brancos fizeram mais de sete consultas; o número de mães de filhos negros que passaram pelos mesmos exames é 28,6% inferior. No geral, a população negra é a mais necessitada do SUS e também aquela que tem mais dificuldade ao acesso.
 
Pesquisas e estudos demonstram no campo da formalidade o que vivenciamos no dia a dia de nossas comunidades. Presenciamos um momento de ofensiva de opressões por parte do Estado Brasileiro que por sua vez, enxerga na população empobrecida, em especial na juventude negra, seu principal inimigo. Aos movimentos populares cabe a permanente denuncia e a teimosia em organizar a população para a resistência e ação.
 
A UNEafro-Brasil soma-se a esse esforço no cotidiano de sua atuação nos Cursinhos Comunitários e nos Núcleos de Cultura. Assumimos o desafio de, devagar e sempre, fomentar uma nova mentalidade, crítica, questionadora e sedenta por transformações, elementos tão necessários para a organização da classe trabalhadora e para a nossa vitória.
 
Douglas Belchior
Professor de História
Membro do Conselho Geral da UNEafro-Brasil
 
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História Geral da África para download

Uma excelente dica de leitura para quem quer saber mais sobre a África. Para abrir o documento em PDF, clique na imagem.


Boa leitura!

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Escolas brasileiras enfrentam desafio de garantir ensino religioso sem privilegiar crenças


Além das operações matemáticas, das regras ortográficas e dos fatos históricos, os princípios e conceitos das principais religiões também devem ser discutidos em sala de aula. A Constituição Federal brasileira determina que a oferta do ensino religioso deve ser obrigatória nas escolas da rede pública de ensino fundamental, com matrícula facultativa – ou seja, cabe aos pais decidir se os filhos vão frequentar as aulas.

Pesquisas recentes e ações na Justiça questionam a inclusão da religião nas escolas, já que, desde a Constituição Federal de 1890,o Brasil é um país laico, ou seja, a população é livre para ter diferentes credos, mas as religiões devem estar afastadas do ordenamento oficial do Estado.

Apesar da obrigatoriedade, ainda não há uma diretriz curricular para todo o país que estabeleça o conteúdo a ser ensinado, de maneira a garantir uma abordagem plural sem caráter doutrinário. Outro problema é a falta de critérios nacionais para contratação de professores de religião. Hoje, o país conta com 425 mil docentes, formados em diversas áreas.

O ensino religioso está presente no Brasil desde o período colonial, com a chegada dos padres jesuítas de Portugal para catequizar os índios.

Atualmente, de acordo com a Constituição, a disciplina deve fazer parte da grade horária regular das escolas públicas de ensino fundamental. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) definiu que as unidades federativas são responsáveis por organizar a oferta, desde que seja observado o respeito à diversidade religiosa e proibida qualquer forma de proselitismo ou doutrinação.
 

“Alguns historiadores que tratam da participação da religião na vida pública mostram que o ensino religioso foi uma concessão à laicidade à época da Constituinte. Havia uma falsa presunção de que religião era importante para a formação do caráter, da vida e dos indivíduos participativos e bons. Essa é uma presunção que discrimina grupos que não professem nenhuma religião. Isso foi uma concessão à pressão dos grupos religiosos”, avalia a socióloga Debora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB).

Debora é autora, junto com as pesquisadoras Tatiana Lionço e Vanessa Carrião, do livro Laicidade e Ensino Religioso, publicado no último semestre. O estudo investigou como o ensino religioso se configura no país e se as escolas garantem, na prática, espaços semelhantes para todos os credos, como preconiza a LDB. A conclusão é que não há igualdade de representação religiosa nas salas de aula. “Ele é um ensino cristão, majoritariamente católico, e não há igualdade de representação religiosa com outros grupos, principalmente os minoritários”, destaca Debora.

Há mais de uma década acompanhando essa discussão, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper) reconhece que há muitos desafios para garantir a pluralidade. Mas defende que o conteúdo é importante para a formação dos alunos. “Nós vislumbramos, desde a LDB, que o ensino religioso poderia assumir uma identidade bastante pedagógica, que fosse de fato uma disciplina como qualquer outra e que a escola pudesse contribuir para o conhecimento da diversidade religiosa de modo científico. O professor, independentemente do seu credo, estaria ajudando os alunos a conhecer o papel da religião na sociedade e a melhorar o relacionamento com as diferenças”, aponta o coordenador do Fonaper, Elcio Cecchetti.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o ensino religioso é oferecido apenas nas escolas estaduais. Nas unidades municipais, ainda não foi implantado, mas há um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Vereadores da capital fluminense que prevê a oferta nas cerca de mil escolas da rede, com frequência facultativa. A recepcionista Jussara Figueiredo Bezerra tem dois filhos que estudam em uma escola municipal da zona sul do Rio de Janeiro e acompanha com certo receio a discussão. Ela é evangélica e acredita que esses valores devem ser transmitidos em casa, pela família.
 

“Quem são os professores que vão dar as aulas de religião? Será que eles serão imparciais? Além disso, com tantas dificuldades e carências que o ensino público já enfrenta, por que gastar dinheiro com isso? Esses recursos poderiam ser usados de outra forma, para melhorar a estrutura já existente nas escolas. Quem quiser aprender mais sobre uma religião deve procurar uma igreja ou uma instituição religiosa”, opina.

Para quem lida na ponta com os delicados limites dessa questão, torna-se um desafio garantir um ensino religioso que contemple as diferentes experiências e crenças encontradas em uma sala de aula. “Nós preferiríamos que a oferta do ensino religioso não fosse obrigatória porque a escola é laica e deve respeitar todas as religiões. O que a gente quer é que os dirigentes possam utilizar essas aulas com um proveito muito melhor do que a doutrinação, abordando o respeito aos direitos humanos e à diversidade e a tolerância, conceitos que permeiam todas as religiões”, defende a presidenta da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho.

Atualmente, duas ações diretas de inconstitucionalidade (Adin) questionam a oferta do ensino religioso no formato atual e aguardam julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma delas foi proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e questionao acordo firmado em 2009 entre o governo brasileiro e o Vaticano. O Artigo 11 desse documento, que foi aprovado pelo Congresso Nacional, determina que “o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Ao pautar o ensino religioso por doutrinas ligadas a igrejas, o acordo, na avaliação da PGR, afronta o princípio da laicidade.

A Agência Brasil publica hoje uma série de matérias sobre o espaço que a religião ocupa nas escolas brasileiras e a dificuldade de muitas redes de ensino de garantir uma representação plural que respeite a diversidade de crenças dos alunos.

Fonte: Agência Brasil (Amanda Cieglinski)
 
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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Obaluaê tem as feridas transformadas em pipoca por Iansã



Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obaluaê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa,
devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá,
cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça
e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou,
mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho.
Ela compreendia a triste situação de Omulu
e dele se compadecia.


Iansã esperou que ele estivesse bem no meio do barracão.
O xirê estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele
e soprou suas roupas de mariô,
levantando as palhas que cobriam sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania,
as feridas de Obaluaê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas,
que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o deus das doenças, transformou-se num jovem,
num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos
e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos,
partilhando o poder único de abrir e interromper
as demandas dos mortos sobre os homens.


[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 206-207. Originalmente em Rita de Cássia Amaral, pesquisa de campo, 1986, 1987. A pipoca, chamada no candomblé de “flor de Obaluaê”, é uma das comidas prediletas de Obaluaê, sendo também muito usada para fazer um tipo de festão com que se enfeita o barracão nas festas desse orixá.

Xirê – [siré]: brincar, no candomblé, ritual em que filhos e filhas-de-santo cantam e dançam numa roda para todos os orixás.

Equede – [èkejì]: literalmente, segunda (pessoa); na África, cargo sacerdotal do rei, que só estava abaixo do orixá daquela cidade, de quem se acreditava que o rei descendia diretamente; no Brasil, a iniciada no candomblé para cuidar dos orixás, vesti-los e dançar com eles.

Mariô – [màrìwò]: folha nova da palmeira de dendê.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

Ogum é castigado por incesto a viver nas estradas


Ogum vivia em casa de seus pais, Obatalá e Iemu.
Vivia com seus irmãos Eleguá e Oxóssi.
Ogum estava enamorado de Iemu
e muitas vezes tentou violá-la,
mas sempre fracassou.
Eleguá e Oxóssi protegiam a mãe das investidas de Ogum.
Um dia o próprio pai o surpreendeu no terrível intento.
Antes que Obatalá o castigasse, Ogum suplicou:
“Deixa, meu pai, que eu mesmo encontrarei o meu castigo”.
Foi então para um lugar distante
sem ter sequer a companhia de seus cães.
Ali viveu só para o trabalho,
impedido de qualquer felicidade.
Labutava em sua forja,
consumia-se em amarguras.

Somente seu irmão Oxóssi sabia de seu paradeiro.
Para purgar o triste destino,
Ogum se pôs a trabalhar sem nunca descansar.
Fabricava pós miraculosos e terríveis.
Seus pós espalharam-se pelo mundo
e muitos foram procurá-lo pelos seus feitiços.
Foi então que chegou a sua casa uma belíssima mulher.
Era Oxum, que o fez provar de seus encantos.
Que prisão poderia ser mais forte que o mel de Oxum?
Ele estava finalmente perdoado.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 94-95. Originalmente encontrado em Natalia Aróstegui, 1994 (a), pp. 53-4.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

Exu leva dois amigos a uma luta de morte

 


Dois camponeses amigos puseram-se bem cedo
trabalhar em suas roças,
mas um e outro deixaram de louvar Exu.
Exu, que sempre lhes havia dado chuva e boas colheitas!
Exu ficou furioso.
Usanndo um boné pontudo,
de um lado branco e do outro vermelho,
Exu caminhou na divisa das roças,
tendo um à sua direita
e o outro à sua esquerda.
Passou entre os dois amigos
e os cumprimentou enfaticamente.
Os camponeses entreolharam-se. Quem era o desconhecido?
“Quem é o estrangeiro de barrete branco?”, perguntou um.
“Quem é o estrangeiro de barrete vermelhor?”, questionou o outro.
“O barrete era branco, branco”, frisou um.
“Não, o barrete era vermelho”, garantiu o outro.
Branco. Vermelho. Branco. Vermelho.
Para um, o desconhecido usava um boné branco,
para o outro, um boné vermelho.
Começaram a discutir sobre a cor do barrete.
Branco.
Vermelho.
Branco.
Vermelho.
Terminaram brigando a golpes de enxada,
mataram-se mutuamente.
Exu cantava e dançava.
Exu estava vingado.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 48-49. Originalmente retirado de Noël Baudin, 1884, p. 53; Pierre Verger, 1954, p. 183; Verger, 1957, p. 112 [1999, pp. 124-5]; Deoscóredes Maximiliano dos santos, 1963, pp. 17-9, Ulli Beier, 1980, pp. 55-6; Verger, 1980, pp. 286-7; Verger, 1981 (a), p. 77; Verger, 1981 (b), pp. 11-2. Noutra versão, depois de muita luta, os dois são levados a julgamento pelo rei (Philip Neimark, 1993, pp. 74-5).

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!