Um dia Orunmilá quis ir a Otá para descobrir os segredos das
Iá Mi.
Ele procurou os babalaôs e consultou Ifá.
Orunmilá podia ir, disseram, mas tinha que fazer uma
oferenda.
Assim, Orunmilá preparou uma peça de tecido branco para
oferecer
e mais uma cabeça de serpente e um pombo branco,
ao que juntou quatro obis
brancos e quatro obis vermelhos
e também azeite, pó branco de efum, pó vermelho de ossum
e uma cabaça.
Orunmilá deu tudo isso aos babalaôs e alegrou-se:
agora podia ir à cidade das Iá Mi.
Quando Orunmilá chegou ao mercado de Otá,
as feiticeiras se regozijaram: “A comida chegou”, disseram.
Porque elas queriam matar e comer Orunmilá.
Mas Exu, que faz o bem e o mal e transforma-se rapidamente,
veio em pessoa advertir as bruxas Iá Mi:
Orunmilá tinha um pássara mais poderoso do que os delas
todas.
Dessa forma, as Iá Mi tiveram de levar seus pássaros
e submetê-los a Orunmilá.
Mas elas não queriam deixar de lutar.
As Iá Mi lançavam mau-olhado no corpo de Orunmilá.
Elas queriam matá-lo
porque Orunmilá conhecer todos os segredos delas.
Então Orunmilá consultou novamente Ifá e fez novas
oferendas.
Preparou uma buchada, pegou um frango de penas arrepiadas
e também ecôs e
búzios.
Os babalaôs de Orunmilá foram consultar Ifá.
Então eles chamaram as Iá Mi
e deram aquilo tudo para elas comerem.
E elas não puderam mais ver
Orunmilá nem pegá-lo.
Orunmilá as enganara.
Como eram ajés,
isto é, feiticeiras,
as Iá Mi não podiam comer buchada,
pois tripa é seu euó,
seu tabu,
e como frango arrepiado não pode voar para o telhado da
casa,
as Iá Mi não podiam matá-lo.
Foi assim que Orunmilá enganou as Iá Mi Oxorongá naquele dia
e descobriu quase todos os segredos delas.
[Notas Bibliográficas
e Comentários]
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo
Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs. 351-352. Originalmente encontrado em
Pierre Verger, 1992, pp. 41-3.
Ajé [Àjé] – feiticeira.
Euó [ewò] –
interdição religiosa; tabu; quizila.
Ecô [eko] –
bolinho de amido de milho branco ou amarelo embrulhado em folha de bananeira.
Efum [efun] – giz,
pó branco.
Ossum [osun] – pó
vermelho usado para pintar o corpo em certas cerimônias; giz.
Obi [obì] – noz-de-cola, fruto africano aclimatado no Brasil (Cola acuminata, Streculiacea), indispensável
nos ritos do Candomblé; substituído em Cuba pelo coco.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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