quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Euá transforma-se na névoa



Euá era filha de Nanã.
Também filhos de Nanã eram Obaluaê, Oxumarê e Ossaim.
Esses irmãos regiam o chão da Terra.
A terra, o solo, o subsolo, era tudo propriedade
de Nanã e sua família.
Nanã queria o melhor para seus filhos,
queria que Euá casasse com alguém que a amparasse.
Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Euá.
Euá era linda e carinhosa.
Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum
para garantir a empreitada.
Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Euá.
E eram tantos os pretendentes
que logo uma contenda entre eles se armou.
A concorrência pela mão da princesa transformou-se
em pugna incessante e mortal.
Jovens se digladiavam até a morte.
Vinham de muito longe,
lutavam como valentes para conquistar sua beleza.
Mas a cada vencedor, Euá não se decidia.
Euá não aceitava o pretendente.
Vinham novos candidatos e outros combates.
Euá não conseguia decidir-se,
ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se
e acabar de vez com o sangrento campeonato.
Tudo estava feio e triste no reino de Nanã;
a terra seca, o sol quase se apagara.
Só a morte dos noivos imperava.
Euá foi então à casa de Orunmilá
para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora
e pôr um fim àquela mortandade.
Euá fez os ebós encomendados por Ifá.
Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra
e, para o espanto de todos,
a princesa começou a desintegrar-se.
Foi desaparecendo, perdendo a forma,
até evaporar-se completamente e transformar-se
em densa e branca bruma.
E a névoa radiante de Euá espalhou-se por toda a Terra.
E na névoa da manhã Euá cantarolava feliz e radiante.
Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma.
O Supremo Deus determinou então que Euá
zelasse pelos indecisos amantes,
olhasse seus problemas, guiasse suas relações.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 233-4. Originalmente encontrado em Rita de Cássia Amaral, pesquisa de campo, São Paulo, 1986. Em muitos candomblés, Euá é a patrona da virgindade e da pureza. Dizem mesmo que somente uma virgem pode ser iniciada em seu culto.

Ebó [ebò] – sacrifício, oferenda, despacho.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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