Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obaluaê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa,
devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá,
cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça
e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou,
mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho.
Ela compreendia a triste situação de Omulu
e dele se compadecia.
Iansã esperou que ele estivesse bem no meio do barracão.
O xirê estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele
e soprou suas roupas de mariô,
levantando as palhas que cobriam sua pestilência.
Nesse momento de encanto e ventania,
as feridas de Obaluaê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas,
que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o deus das doenças, transformou-se num jovem,
num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos
e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos,
partilhando o poder único de abrir e interromper
as demandas dos mortos sobre os homens.
[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 206-207. Originalmente em Rita de Cássia Amaral, pesquisa de campo, 1986, 1987. A pipoca, chamada no candomblé de “flor de Obaluaê”, é uma das comidas prediletas de Obaluaê, sendo também muito usada para fazer um tipo de festão com que se enfeita o barracão nas festas desse orixá.
Xirê – [siré]: brincar, no candomblé, ritual em que filhos e filhas-de-santo cantam e dançam numa roda para todos os orixás.
Equede – [èkejì]: literalmente, segunda (pessoa); na África, cargo sacerdotal do rei, que só estava abaixo do orixá daquela cidade, de quem se acreditava que o rei descendia diretamente; no Brasil, a iniciada no candomblé para cuidar dos orixás, vesti-los e dançar com eles.
Mariô – [màrìwò]: folha nova da palmeira de dendê.
Isso é muito importante para todos nos, conhecer a cultura é liberdade de expressão e de vida, ao passar a conhecer, deixa-se o medo e o preconceito, as pessoas temem o desconhecido, e nossa cultura deve ser explorada, deve ser libertada, deve ser expandida. Tambem sou candomblecista, sou o herdeiro do Abassá Mutalessy, tenho quarenta e nove anos, terceira geração de africanos e fui confirmado Ogan com cinco anos de idade, escolhido pelo Orixa Oxóssi
ResponderExcluirdeixo aqui o meu abraço e parabenizar a todos que lutam pela nossa cultura.