domingo, 27 de junho de 2010

Inspiração em Série #1 | Manoel Herculano

Todo espetáculo desenvolvido por mim para o Yaônilé é montado a partir das experiências vividas e compartilhadas por mim ou pessoas próximas (àquelas as quais tenho acesso imediato e pessoal) ou por figuras célebres e anônimos que, engajadas como nós na luta contra o preconceito, imortalizam suas obras nos mais diversos canais tornando-se eles os objetos das minhas constantes pesquisas na montagem dos meus espetáculos. Por isso resolvi dedicar neste blog um espaço aos poetas, intérpretes, compositores, escritores, pesquisadores, músicos, fotógrafos, artesãos, umbandistas, candomblecistas e qualquer outro artista ou religioso (a) que me inspire na montagem dos meus roteiros.

Este espaço que intitulei "Inspiração em Série" será constantemente abastecido com o resultado das minhas pesquisas audiovisuais, acadêmicas, fonográficas, empíricas, virtuais, oculares e ainda outras que me são inomináveis - com o intuito de divulgar as obras e seus respectivos criadores (a fim de dar-lhes os méritos e créditos devidos) e também manter um histórico do meu processo criativo que, a despeito dos que copiam o meu trabalho, é constante e inefável.

Reitero que sou abertamente a favor da democratização da informação séria com objetivos definidos e abomino o roubo da propriedade intelectual que em seu interím é tão mais palpável que qualquer bem material. O fazer artístico é a receita do entretenimento educativo, instrutivo e não deve ele servir de barganha para o plágio. O que produzo para o Yaônilé tem o objetivo de atuar como denominador comum de um público que respeito e para o qual nos dedicamos individual e coletivamente. E é para este público que manterei este espaço mesmo estando à mercê de o grupo novamente ser plagiado. Se a ocasião faz o ladrão? Eis o que vamos descobrir.

Danilo Aguiar.

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Inspiração em Série #1 traz um texto de Manuel Herculano que será reproduzido na abertura do novo espetáculo.

Afro-descendente

Dia desses eu acordei e me senti assim, como direi, um tanto afro-descendente

Isto, antes de supor que, acima de qualquer cor, sou gente
Sei lá, eu me sentia meio escuridão, meio excluso, meio eclipse
Faltando mais que um botão, um parafuso, talvez alguns chips
Coisas de quem faz confusão entre pessoas especiais e pessoas VIPs
E quando me olhei no espelho, um sorriso
O bastante para perceber o quanto tal questionamento era impreciso
Eu sou muito mais que um "pretinho básico", ou um "pão ázimo"
Não sou mágico, na verdade eu sou algo assim equivalente ao máximo.
Racismo já deu, e entre trevas e reservas, eu sou mais eu
E para quem não consegue me digerir, que também não tente me diminuir
Pois ouvirá em cima da hora: sai fora, vai ver se eu estou em Angola!
Será mesmo que só é legal ser negão no Senegal?
Eu não sou "escurinho" nem "uma pessoa de cor"
Também não precisa me chamar de "meu branco", muito menos de "doutor"
Eu não quero mudar de cor só por ter, eu quero ser
Quero conviver com todas as raças, sem dono, com todas as cores
Andar livre nas praças, no colorido do outono, na primavera dos amores
Podem me chamar de moreno, mulato, pedaço de mau caminho, gato
No samba, no bolero ou no forró, eu tolero sem dó, até cor de jambo
Mais que isso é insulto, aí eu fico muito puto e esculhambo
Porque pano é pano, tecido é tecido, e mulambo é mulambo.
Todos somos criaturas, branca ou negra, a raça é uma mistura
Eu sou negro, e se aos seus olhos não pareço um "deus grego"
Mas posso ser um "deus" africano, maranhense, indiano
E acima de todo esse blá blá blá, sou capaz de amar, sou brasileiro
E as cores do Brasil, feito um céu azul-anil, embelezam o mundo inteiro
Quanto à raça, tanto a minha, a sua, a do índio, a da cigana
Olha que graça, não tem drama, é uma só, a raça humana!


Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!



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