segunda-feira, 30 de maio de 2011

Omulu cura todos da peste e é chamado Obaluaê


Quando Omulu era um menino de uns doze anos,
saiu de casa e foi para o mundo para fazer vida.
De cidade em cidade, de vila em vila,
ele ia oferecendo seus serviços,
procurando emprego.
Mas Omulu não conseguia nada.
Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava.
E ele teve que pedir esmola,
mas ao menino ninguém dava nada,
nem do que comer, nem do que beber.
Tinha um cachorro que o acompanhava e só.
Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato
e foram viver com as cobras.
Omulu comia o que a mata dava:
frutas, folhas, raízes.
Mas os espinho da floresta feriam o menino.
As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo.
Omulu ficou coberto de chagas.
Só o cachorro confortava Omulu,
lambendo-lhe as feridas.
Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz:
“estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo”.
Omulu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas.
Não tinha dores nem febre.
Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós,
onde guardava água e remédios
que aprendera a usar com a floresta,
agradeceu a Olorum e partiu.

Naquele tempo uma peste infestava a Terra.
Por todo lado estava morrendo gente.
Todas as aldeias enterravam os seus mortos.
Os pais de Omulu foram ao babalaô
e ele disse que Omulu estava vivo
e que ele traria a cura para a peste.
Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu.
Todos esperavam-no com festa, pois ele curava.
Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber
agora imploravam por sua cura.
Ele curava todos, afastava a peste.
Então dizia que se protegessem,
levando na mão uma folha de dracena, o peregum,
e pintando a cabeça com efum, ossum e uági,
os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos.
Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa,
para que a praga não pegasse outras pessoas da família.
Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro,
seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará.

Quando chegou em casa, Omulu curou os pais
e todos estavam felizes.
Todos cantavam e louvavam o curandeiro
e todos o chamaram Obaluaê,
todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluaê.


 
[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 204-06. Originalmente retirado de Deoscóredes Maximiliano dos Santos, 1976, pp. 22-4. Nas cerimônias em que um novo iaô é apresentado á comunidade do candomblé, em uma de suas saídas no barracão, ele dança com a cabeça raspada e pintada de efum, ossum e uági, levando em cada mão uma folha de peregum. Fragmentos em Donald Pierson, 1971, pp. 333-4.

Ató [ató] – pequena cabaça usada para guardar remédios, símbolo de Ossaim e Omulu, orixás ligados à cura.
Efum [efun] – giz, pó branco.
Ossum [osun] – pó vermelho usado para pintar o corpo em certas cerimônias; giz.
Uági [wáji] – pó azul para pintar o corpo em certas cerimônias.
Peregum [pèrègùn] – a planta dracena (Dracaena fragrans, Agavaceae).
Xaxará [sàsàra] – vassoura-cetro de Omulu.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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