Para que os negros pudessem exercer sua fé e reverenciar seus ancestrais na terra de Vera Cruz foi necessário que fizessem uma camuflagem de seus rituais sob o olhar católico de seus senhores. Era inevitável: ser um brasileiro vivo dependia do credo na Santa Madre Igreja, o catolicismo era a única região tolerada por aqui e a única forma de ser legitimado socialmente. Como a nação Brasillis era constituída também por índios, a esfera dos cultos recebeu um reforço das pajelanças tupis guaranis sendo incorporadas louvações a espíritos indígenas dentro da miscelânea.
Assim surgiu o sincretismo religioso, o paralelismo entre o catolicismo branco, a tradição dos orixás da vertente negra e símbolos e os espíritos de inspiração indígena, contemplando as três fontes básicas do Brasil mestiço, seguindo o calendário festivo da Igreja Católica, santificando os ritos e sacramentos católicos. Mesmo após o século XIX, quando os negros se viram livres, continuaram a afirmar-se católicos (medo, retaliação?) o que acabou fazendo com que o candomblé da Bahia, o Xangô de Pernambuco, o Tambor-de-mina do Maranhão, o Batuque do Rio Grande do Sul e outras denominações, fossem arroladas pelo censo do IBGE sob o nome único e mais conhecido: candomblé.
Como diz o senhor M. P. “...isso faz com que as religiões afro-brasileiras apareçam subestimadas nos censos, em que o quesito religião só pode ser pesquisado de modo superficial. Com o tempo, as religiões afro-brasileiras tradicionais se espalharam pelo Brasil todo, passando por muitas inovações, mas quanto mais tradicionais os redutos pesquisados, mais os afro-brasileiros continuam se declarando, e se sentindo, católicos. Mais perto da tradição, mais católico. Um mapeamento dos afro-brasileiros segundo as diferentes regiões mostra isso muito bem: eles são em número relativamente pequeno no Nordeste, região em que a religião afro-brasileira tradicional se formou, o que pode parecer paradoxal, e em número bem maior nas regiões em que se instalou mais recentemente, ou seja, já no século XX, e onde a mudança religiosa no campo afrobrasileiro tem se mostrado mais vigorosa, casos do Sudeste e do Sul. Até hoje o catolicismo é uma máscara usada pelas religiões afro-brasileiras, máscara que evidentemente as esconde também dos recenseamentos.”
O que assistimos hoje é uma descatolização do Candomblé, a religião dessincretizada. Após um considerável tempo as pessoas perceberam que o candomblé não precisa ser ligado a outra religião para existir. Tem pernas e vida próprias para seguir sem alienações, apesar do preconceito ainda latente. É inegável a importância cultural que o candomblé, a umbanda, o xangô, o tambor-de-mina, o batuque e outras denominações menores “exercem no cenário cultural brasileiro. Sua contribuição às mais diferentes áreas da cultura brasileira é riquíssima, como acontece também noutros países americanos em que se constituíram religiões de origem negro-africana. Mas, se se confirma que o Brasil vem se tornando religiosamente menos afro-brasileiro, a fonte viva de valores, visões de mundo, arranjos estéticos, aromas, sabores, ritmos etc., que são os terreiros de candomblé e umbanda, pode entrar em processo de extinção. Não seria um horizonte promissor para o cultivo da diferença cultural e do pluralismo religioso, cujo alargamento alimentou promessas do final do século XX de mais democracia, diversidade, tolerância e liberdade” (MP, 2000)
As pessoas criticam, se enervam, a religião é massacrada principalmente via neo-pentecostais, mas resiste. O que nos torna fortes é a vontade de sermos fortes. O que nos mantém vivo é o desejo de não morrermos. Falo na 1ª pessoa do plural pois acredito que somos responsáveis pela nossa cultura, o legado do qual somos frutos e que devemos preservar.
Este grupo tem um compromisso social, antes de tudo, o que nos faz alvos de críticas, apelos sugestivos, acusações, afrontas e outras coisas de ínfimo valor. Ratificamos aqui que apenas o caminho nos interessa não importando aqueles que se acercam dele para dificultá-lo ou torná-lo mais penoso.
Há quem trabalhe o afro, hoje em dia, visando lucros, materiais e pessoais, a ganância pela vontade de ser reconhecido pelo que nunca soube fazer mas acham quem anonimamente o faça. Pessoas preconceituosas, irresponsáveis com a causa, repudiáveis por natureza.
Há de se dizer que os tempos de escravidão acabaram. O da ignorância também. Que essas pessoas recebam Palma (Tórias).
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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