Olodumare dividiu com seus filhos orixás
a difícil incumbência de governar o mundo.
Ajagunã também teve seu encargo, seu posto, seu oiê.
Foi-lhe destinado o domínio do progresso.
Mas, em vez do progresso,
ele plantou o conflito, a discórdia e a revolução.
Com ele a humanidade conheceu de perto a revolução.
Por vontade de Ajagunã, a cizânia se fez entre homens e nações.
Governando um grande território africano,
Ajagunã guerreava sempre com seus vizinhos.
Mas os vizinhos iam a Olofim-Olodumare
e protestavam pela agressividade de Ajagunã.
Diante de tantos protestos,
o Ser Supremo chamou e o repreendeu por seus exageros.
Ajagunã contestou dizendo que seu pai vivia confortavelmente,
sempre sentado na mesma cômoda posição,
não se dando conta do furor transformador
que a discórdia de Ajagunã gerava na terra.
Ajagunã seguiu guerreando pelo mundo,
fazendo do cotidiano dos povos um pandemônio,
alastrando a arruaça, o tumulto, a balbúrdia e o litígio.
Até que um dia Olofim tirou-lhe o reino
e o baniu para um distante continente.
No exílio, Ajagunã encontrou um povo que vivia em paz
e isso enlouqueceu Ajagunã.
Rapidamente criou a discórdia entre aquelas tribos
e a guerra instalou-se no país.
Tanta guerra fez que ela voltou a se espalhar mundo afora.
Olodumare, alarmado, chamou o filho
e pediu-lhe que repensasse sua forma de agir.
Ajagunã disse-lhe que a discórdia era necessária para o progresso,
somente daquela forma o ser humano criaria anseios
de crescer e conquistar novos caminhos.
Sim, ele estava exercendo
a função que o pai lhe atribuíra,
defendeu-se.
O Supremo Criador aceitou as explicações de Ajagunã.
O mundo continuou a guerrear.
O mundo continuou a progredir.
Ajagunã não pára nem para descansar.
[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 493-4. Originalmente retirado de Lydia Cabrera, 1993, pp. 296-7.
Oiê [oyè] – cargo, posto hierárquico, título.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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