Era uma vez um grande caçador,
que gostava de andar pelo mundo sem parar.
Seu nome era Orô
e era filho de Iemanjá.
Orô viajava, caçava
e conquistava seus amores.
Todas as mulheres tinham uma queda por Orô
e ele adorava estar em sua companhia.
Um dia Orô achou que era hora de assentar na vida.
Orô casou-se.
Era então o caçador pacato,
que esperava ansioso o nascimento do seu primogênito.
Mas sua mulher o traiu
e abortou seu filho.
Orô não a perdoou
e desde então odiou as mulheres.
Retirou-se para as matas que cercavam a cidade
e nunca mais mulher alguma o viu.
Quem de Orô se aproxima, de dia ou de noite,
pode escutar sua voz cavernosa e horripilante,
grave como o com dos berrantes.
Vive na mata como um egum,
como um egum perdido e solitário,
longe do mundo que tanto mal lhe fez.
É o senhor da floresta,
que guarda e assombra,
e todos o temem e o evitam.
Evitam até mesmo o pavoroso som de sua garganta,
especialmente as mulheres que ele odeia
e culpa por sua triste sina.
Vive na mata, onde aplica sua justiça,
devorando feiticeiros,
criminosos condenados
e mulheres adúlteras que os homens lhe entregam.
Só os homens dele se aproximam.
Nem as mulheres podem ver Orô,
nem Orô quer ver as mulheres.
[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, pág 186-7. Originalmente encontrado em Lydia Cabrera, 1980, pp. 41. Na África, o culto de Orô é conduzido pela sociedade secreta masculina dos Ogboni, responsável pela execução de criminosos ondenados à morte. Seus sacerdotes saem às ruas tocando instrumentos que produzem um som rouco como a voz de oro, obrigando as mulheres a se trancar em casa. Orô está praticamente esquecido no Brasil. É cultuado como egum em Cuba.
Egum [Égún] – antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungum; alguns orixás são eguns divinizados.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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