sábado, 30 de julho de 2011

Iemanjá joga búzios na ausência de Orunmilá


Iemanjá e Orunmilá eram casados.
Orunmilá era um grande adivinho.
Com seus dotes sabia interpretar os segredos dos búzios.
Certa vez Orunmilá viajou e demorou a voltar
e Iemanjá viu-se sem dinheiro em casa.
Então, usando o oráculo do marido ausente,
passou a atender uma grande clientela
e fez muito dinheiro.

No caminho de volta pra casa,
Orunmilá ficou sabendo que havia em sua aldeia
uma mulher de grande sabedoria e poder de cura,
que com a perfeição de um babalaô jogava búzios.
Ficou desconfiado.
Quando voltou, não se apresentou a Iemanjá,
preferindo vigiar, escondido, o movimento em sua casa.
Não demorou a constatar que era mesmo a sua mulher
a autora daqueles feitos.
Orunmilá repreendeu duramente Iemanjá.
Iemanjá disse que fez aquilo para não morrer de fome.
Mas o marido contrariado a levou perante Olofim-Olodumare.
Olofim reiterou que Orunmilá era e continuaria sendo
o único dono do jogo oracular que permite a leitura do destino.
Ele era o legítimo conhecedor pleno das histórias
que formam a ciência dos dezesseis odus.
Só o sábio Orunmilá pode ler a complexidade e as minúcias do destino.
Mas reconheceu que Iemanjá tinha um pendor para aquela arte,
pois em pouco tempo angariara grande freguesia.
Deu a ela então autoridade para interpretar as situações mais simples,
que não envolvessem o saber complexo dos dezesseis odus.


[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs. 387-8. Originalmente encontrado em Natália Aróstegui, 1994 (b), p. 45.

Odu [Odù] – Signos do oráculo iorubano, formados de mitos que dão indicações sobre a origem e o destino do consulente. O odu é obtido ao acaso, pelo lançamento de dezesseis búzios, dezesseis cocos de dendê, ou pela cadeia de adivinhação de Ifá. Na África, os odus são histórias em forma de poemas recitados de cor pelo babalaô. Em Cuba, os babalaôs mantêm os mitos dos odus escritos em cadernos que conservam em segredo (pataquis). No Brasil, os poemas estão esquecidos, conservando-se contudo seus nomes, nomes de orixás que fazem parte das narrativas e presságios de cada um deles. Odus são divindades enviadas por Orunmilá para ajudar os homens.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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