domingo, 25 de julho de 2010

Dança Negra Contemporânea Brasileira

A formação da cultura brasileira é fruto da fusão das tradições de povos de diferentes origens étnicas, sendo que o modo de participação de cada um desses povos são elementos basilares e constitutivos da cultura brasileira sendo esta, portanto, resultado da miscigenação ocorrida entre indígenas, africanos e europeus.

Quando se pensa em cultura é necessário enfatizar que esta é o resultado de tradições orais e escritas, sedimentadas nas mais diferentes formas, transmitidas geração a geração formando uma teia de informações que não devem (nem podem) ser perdidas ou esquecidas. Nesse tear que é a construção da história de uma sociedade a cultura atua como cimento unindo pontos, dando forma, redimensionando o imaginário em prol da difusão de um senso coletivo comum - a cultura popular. Como lembra Chauí "a cultura popular pode ser a capacidade de apresentar idéias, situações, sentimentos, paixões e anseios universais que, por serem universais, o povo reconhece, identifica e compreende espontaneamente. Nesse entendimento, cultura é também o modo das pessoas conviverem, se relacionarem, se expressarem, trabalharem, brincarem, contarem estórias e dançarem".

A herança escravista e o fato do Brasil ter sido o último país ocidental a abolir o regime escravocrata - que aqui durou quase 400 anos - são fatores que fazem com que alguns estudiosos apontem-nas como causas para o não reconhecimento da cultura afro-brasileira como parte legitima, constitutiva e representativa da cultura brasileira. Sendo assim, é preciso repensarmos a cultura negra enquanto formadora da identidade da dança afro-brasileira. Ao contrário das outras danças, a dança de origem negra é altamente simbólica, carregada de signos, significados e significantes que, independentemente da dicotomia entre nações de candomblé, trazem em si uma poderosa representatividade perante as histórias, mitos e lendas das quais são oriundas.Isso acaba fazendo com que a dança afro seja vista como exótica, folclórica ou mesmo sensual quando, na verdade, beira mares bem diferentes destes lagos.

Prefiro referir-me a partir de agora à "dança afro" como Dança Negra Contemporânea Brasileira. Explico.

O termo Dança Negra Contemporânea traz em si mais objetividade ao referir-se ao legado cultural e civilizatório da África Negra, de onde é oriundo. As coreografias do Yaônilé mais que puramente elementos simbólicos carregam o ar da dramaturgia que é um dos príncipios éticos-estéticos da cultura negra africana. De acordo com o escritor e pesquidador Cunha apud Silva e Calaça, "a arte africana transmite idéias, conceitos, valores grupais. Assim o artista deve sugerir e não representar; deve revelar a essência presente que está atrás daquelas formas criadas. Desta forma, o significado da arte africana é referência para análise conceitual e proposição coreográfica e dramatúrgica para a dança". Sob essa ótica, a religiosidade latente, o sagrado, o mistério, a simbologia e tantos outros referenciais culturais dos povos africanos constituem uma arte singular que redmensiona, transmite, sugere e comunica, "através da criação de formas e conteúdo estético, belo e expressivo também presentes nas danças".

"A dança africana remete à ancestralidade. A presença de elementos simbólicos, do mito, do rito é muito forte nestas comunidades e estão sempre presentes nas manifestações culturais dos povos africanos". De acordo com Asante apud Martins "existem sete princípios básicos presentes na dança africana, são eles: polirritmia, forma cíclica e circular, policentrismo, dimensionalidade, imitação e harmonia, sentido holístico, repetição".

O Yaônilé enquanto Cia de Dança Negra Contemporânea tem se engajado para tornar-se um centro de referências da cultura negra e afro-brasileira, desenvolvendo ações afirmativas que ajudem o nosso povo a melhor compreender a si mesmo, sendo um espaço de conhecimento, assimilação, aprofundamento e recriação das inúmeras manifestações artísticas negras do país.

E é sobre esse assunto que estarei participando de uma mesa redonda nos dias 13, 14 e 15 de Agosto com abertura do Yaônilé.

Aguardem a programação aqui no Blog.

Danilo Aguiar


Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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