Ogum, filho de Odudua, sempre guerreava,
trazendo o fruto da vitória para o reino de seu pai.
Amante da liberdade e das aventuras amorosas,
foi com uma mulher chamada Ojá que Ogum teve o filho Oxóssi.
Depois amou Oiá, Oxum e Obá,
as três mulheres de seu maior rival, Xangô.
Ogum seguiu lutando e tomou pra si a coroa de Irê,
que na época era composto de sete aldeias.
Era conhecido como Onirê, o rei de Irê,
deixando depois o trono para seu próprio filho.
Ogum era o rei de Irê, Omi Irê, Ogum Onirê.
Ogum usava a coroa sem franjas chamada acorô.
Por isso também era chamado de Ogum Alacorô.
Conta-se que, tendo partido para a guerra,
Ogum retornou a Irê depois de muito tempo.
Chegou num dia em que se realizava um ritual sagrado.
A cerimônia exigia a guarda total do silêncio.
Ninguém podia falar com ninguém.
Ninguém podia dirigir o olhar para ninguém.
Ogum sentia sede e fome, mas ninguém o atendia.
Ninguém o ouvia, ninguém falava com ele.
Ogum pensou que não havia sido reconhecido.
Ogum sentiu-se desprezado.
Depois de ter vencido a guerra,
sua cidade não o recebia.
Ele, o rei de Irê!
Não reconhecido por sua própria gente!
Humilhado e enfurecido, Ogum, espada em punho,
pôs-se a destruir a tudo e a todos.
Cortou a cabeça de seus súditos.
Ogum lavou-se com sangue.
Ogum estava vingado.
Então a cerimônia religiosa terminou
e com ela a imposição de silêncio foi suspensa.
Imediatamente, o filho de Ogum,
acompanhado por um grupo de súditos,
ilustres homens salvos da matança,
veio á procura do pai.
Eles renderam as homenagens devidas ao rei
e ao grande guerreiro Ogum.
Saciaram sua fome e sede.
Vestiram Ogum com roupas novas,
cantaram e dançaram pra ele.
Mas Ogum estava inconsolável.
Havia matado quase todos os habitantes da sua cidade.
Não se dera conta das regras de uma cerimônia
tão importante para todo o reino.
Ogum sentia que já não podia ser o rei.
E Ogum estava arrependido de sua intolerância,
envergonhado por tamanha precipitação.
Ogum fustigou-se dia e noite em autopunição.
Não tinha medida seu tormento,
nem havia possibilidade de autocompaixão.
Ogum então enfiou sua espada no chão
e num átimo de segundo a terra se abriu
e ele foi tragado solo abaixo.
Ogum estava no Orum, o Céu dos deuses.
Não era mais humano.
Tornara-se um orixá.
[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 89-91. Originalmente encontrado em Pierre Verger, 1957, p. 142 [1999, p. 152]; Ulli beier, 1980, pp. 34-5; Verger, 1980, p.286; Verger, 1981 (b), pp. 23-4; Verger, 1985, p. 15; Agenor Miranda Rocha, 1994, pp. 70-2.
Acorô [Kóró] - Pequena coroa usada por Ogum.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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