domingo, 8 de agosto de 2010

Oxum dança para Ogum na floresta e o traz de volta à forja!



Perante Obatalá, Ogum havia condenado a si mesmo
a trabalhar duro na forja para sempre.
Mas ele estava cansado da cidade e da sua profissão.
Queria voltar a viver na floresta,
voltar a ser o livre caçador que fora antes.
Ogum achava-se muito poderoso,
sentia que nenhum orixá poderia obrigá-lo a fazer o que não quisesse.
Ogum estava cansado do trabalho de ferreiro
e partiu para a floresta, abandonando tudo.
Logo que os orixás souberam da fuga de Ogum,
foram a seu encalço para convencê-lo a voltar à cidade e à forja,
pois ninguém podia ficar sem os artigos de ferro de Ogum,
as armas, os utensílios, as ferramentas agrícolas.
Mas Ogum não ouvia ninguém, queria ficar no mato.
Simplesmente os enxotava da floresta com violência.
Todos foram lá, menos Xangô.
E como estava previsto, sem os ferros de Ogum, o mundo começou a ir mal.
Sem instrumentos para plantar, as colheitas escasseavam
e a humanidade já passava fome.

Foi quando uma bela e frágil jovem veio à assembléia dos orixás
e ofereceu-se a convencer Ogum a voltar à forja.
Era Oxum a bela e jovem voluntária.
Os outros orixás escarneceram dela,
tão jovem, tão bela, tão frágil.
Ela seria escorraçada por Ogum
e até temiam por ela, pois Ogum era violento,
poderia machucá-la, até matá-la.
Mas Oxum insistiu, disse que tinha poderes
de que os demais nem suspeitavam.
Obatalá, que tudo escutava mudo,
levantou a mão e impôs silêncio.
Oxum o convencera, ela podia ir à floresta e tentar.

Assim, Oxum entrou no mato
e se aproximou do sítio donde Ogum costumava acampar.
Usava ela tão somente cinco lenços transparentes
presos à cintura em laços, como esvoaçante saia.
Os cabelos soltos, os pés descalços,
Oxum dançava como o vento
e seu corpo desprendia um perfume arrebatador.
Ogum foi imediatamente atraído,
irremediavelmente conquistado pela visão maravilhosa,
mas se maneteve distante.
Ficou à espreita atrás dos arbustos, absorto.
De lá admirava Oxum embevecido. Oxum o via mas fazia de conta que não.
O tempo todo ela dançava e se aproximava dele
mas fingia sempre que não dera por sua presença.
A dança e o vento faziam flutuar as cinco lenços da cintura,
deixando ver por segundos a carne irresistível de Oxum.
Ela dançava, o enloquecia.
Dele se aproximava e com seus dedos sedutores
lambuzava de mel os lábios de Ogum.

Ele estava como que em transe.
E ela o atraía para si e ia caminhando pela mata,
sutilmente tomando a direção da cidade.
Mais dança, mais mel, mais sedução,
Ogum não se dava conta do estratagema da dançarina.
Ela ia na frente, ele a acompanhava inebriado,
louco de tesão.
Quando Ogum se deu conta,
eis que se encontravam ambos na praça da cidade.
Os orixás todos estavam lá
e aclamavam o casal em sua dança de amor.
Ogum estava na cidade, Ogum voltara!
Temendo ser tomado como fraco,
enganado pela sedução de uma mulher bonita,
Ogum deu a entender que voltara por gosto e vontade própria.
E nunca mais abandonaria a cidade.
E nunca mais abandonaria sua forja.
E os orixás aplaudiam e aplaudiam a dança de Oxum.
Ogum voltou à forja e os homens voltaram a usar seus utensílios
e houve plantações e colheitas
e a fartura baniu a fome e espantou a morte.
Oxum salvara a humanidade com sua dança de amor.


[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, Págs 321 - 323. Originalmente transcrito de Rita de Cássia Amaral, pesquisa na internet, 1997. Relatado pelo babalaô cubano Efún Moyiwá, site OrishaNet.


Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!

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