domingo, 8 de agosto de 2010

Iemanjá é violentada pelo filho e dá à luz os orixás!



Da união entre Obatalá, o Céu,
e Odudua, a Terra,
nasceram Aganju, a Terra Firme,
e Iemanjá, as Águas
Desposando seu irmão Aganju,
Iemanjá deu à luz Orungã.
Orungã nutriu pela mãe incestuoso amor. 
Um dia, aproveitando-se da ausência do pai,
Orungã raptou e violou Iemanjá.
Aflita e entregue a total desespero,
Iemanjpa desprendeu-se dos braços do filho incestuoso
e fugiu.

Perseguiu-a Orungã.
Quando ele estava prestes a apanhá-la,
Iemanjá caiu desfalecida
e cresceu-lhe desmesuradamente o corpo,
como se suas formas se transformassem em vales, montes, serras.
De seus seios enormes como duas montanhas nasceram dois rios,
que adiante se reuniram numa só lagoa, originando adiante o mar.
O ventre descomunal de Iemanjá se rompeu
e dele nasceram os orixás:
Dadá, deusa dos vegetais,
Xangô, deus do trovão,
Ogum, deus do ferro e da guerra,
Olocum, divindade do mar,
Olossá, deusa dos lagos,
Oiá, deusa do rio Niger,
Oxum, deusa do rio Oxum,
Obá, deusa do rio Obá,
Ocô, orixá da agricultura,
Oxóssi, orixá dos caçadores, 
Oquê, deus das montanhas,
Ajê Xalugá, orixá da saúde,
Xapanã, deus da varíola,
Orum, o Sol,
Oxu, a Lua.
E outros e mais outros orixás nasceram
do ventre violado de Iemanjá.
E por fim nasceu Exu, o mensageiro.
Cada filho de Iemanjá tem sua história,
cada um tem seus poderes.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, Págs 382-3. Originalmente transcrito de Noel Baudin, 1884, p. 13; A. E. Ellis, 1894, p. 43; Nina Rodrigues, 1945, p. 353; Arthur Ramos, 1940, pp. 318-9; Ramos, 1952, pp. 14-15; Edson Carneiro, 1954, p. 235; Leo Frobenius, 1949, p. 161; Pierre Verger, 1957, p. 292 [1999, p. 295]; Verger, 1981 (a), p. 194; Olumide Lucas, 1948, p. 97; R. C. Abraham, 1962, p. 680; Lydia Cabrera, 1980, pp. 23-4; Samuel Feijoo, 1986, pp. 241-2; Natalia Aróstegui, 1994 (a), p. 154; Rosa María Lahaye Guera e Rúben Zardoya Loureda, 1996, p. 26; Zora Seljan, 1973, pp. 95-6 e 111. No começo do século XX, Nina Rodrigues transcreveu o mito aprendido com Ellis, que o reproduzira do padre Baudin, e disse não ter encontrado similar na Bahia. Verger, quase um século após o registro de Baudin, afirma, com base em suposições, que o mito foi uma "invenção" de Baudin (Verger, 1981 (a), p. 194) e o rejeita, embora reproduza, sem citar, muitos outros mitos presentes no mesmo volume de Baudin. Antropólogos e estudiosos da religião dos iorubás na África e no Novo Mundo reproduziram o mito e a partir de certo tempo ele já encontrado em pesquisa de campo tanto no Brasil como em Cuba. No Brasil de hoje, é um dos mitos mais populares entre o povo-de-santo, que não sabe dizer o nome do filho de Iemanjá que a teria violentado, mas conta que a origem dos orixás foi conseqüência da violência sexual do filho contra ela. No original de Baudin, cada filho de Iemanjá ocupa um longo trecho da narrativa, merecendo Exu um capítulo à parte. Na versão resumida de Ellis, que tonou Baudin como base, os orixás são apenas enumerados com sua atribuição principal, esquecendo-se de Exu.


Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé! 

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