Ajagunã nasceu de Obatalá.
Só de Obatalá.
Nasceu num igbim, num caramujo.
Logo que nasceu, Ajagunã se revoltou.
Ajagunã não tinha ori, não tinha cabeça
e andava pela vida sem destino certo.
Um dia, quase louco, encontrou Ori na estrada
e Ori fez para Ajagunã uma cabeça branca.
Era de inhame pilado sua cabeça.
Mas a cabeça de inhame esquentava muito
e Ajagunã sofria torturantes dores de cabeça.
De outra feita, lá ia pela estrada
Ajagunã padecendo de seus males,
quando se encontrou com Icu, a Morte.
Icu se pôs a dançar para Ajagunã e se ofereceu
para dar a ele outro ori.
Oxaguiã, com medo, recusou prontamente,
mas era tão insuportável o calor que ele sentia
que não pôde recusar por muito tempo a oferta.
Icu prometeu-lhe um ori negro.
Icu ofereceu-lhe um ori frio.
Ele aceitou.
A sorte de Ajagunã contudo não mudou.
Era fria e dolorida essa cabeça negra.
Mas o pior era o terror que não o abandonava
Mas o pior era o terror que não o abandonava
de sentir-se perseguido por mil sombras.
Eram as sombras da Morte em sua cabeça fria.
Então seguiu Ogum e deu sua espada a Ajagunã.
E com a espada ele afugentou a Morte e as suas sombras.
Ogum fez o que pôde para socorrer o amigo,
com a faca retirando o Ori frio grudado no ori quente.
Na operação de Ogum as duas cabeças se fundiram
e o ori de Oxaguiã fica azulado,
um novo ori nem muito quente, nem muito frio.
Uma cabeça quente não funciona bem.
Uma cabeça fria também não.
Foi o que se aprendeu
com a aventura de Ajagunã.
Finalmente a vida de Ajagunã se normalizou.
Com a ajuda de Ogum, mais uma vez,
o orixá aprendeu todas as artes bélicas
e assim venceu na vida muitas batalhas e guerras.
Hoje, o seu nome, como o nome de Ogum,
é relembrado entre os dos mais destemidos generais.
E foi assim que Oxaguiã foi chamado Ajagunã,
título do mais valente entre todos os guerreiros.
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, Págs 489-90. Originalmente transcrito de Reginaldo Prandi, pesquisa de campo, São Paulo, 1997.
Igbim - Caracol catassol; animal predileto de Oxalá.
ori - cabeça; destino.
Ori - Divindade da cabeça de cada indivíduo; recebe oferendas no ritual do bori.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Colofé!
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